quarta-feira, 22 de junho de 2011

REINOS AFRICANOS : SOCIEDADES E COMÉRCIO


O Egito foi, provavelmente, o primeiro estado a constituir-se na África, há cerca de 5000 anos, mas muitos outros reinos ou cidades-estado foram sucedendo-se neste continente, ao longo dos séculos. Além disso, a África foi, desde a antiguidade, procurada por povos de outros continentes, que buscavam as suas riquezas como sal e ouro.
            Habitando o extremo norte do continente, os egípcios mantiveram alguns contatos com os povos da Europa e principalmente da Ásia, sendo dominados, sucessivamente, por gregos e romanos. Você deve estar se perguntando: Como viviam os povos que habitavam o restante do continente africano?
Nos últimos milênios antes da era cristã, o continente africano passou por profundas alterações climáticas, em especial nas áreas que envolviam o que atualmente é o deserto do Saara, o maior deserto do mundo. Tais mudanças impulsionaram migrações de povos para o norte, formando a população mediterrânea, e para o sul, na África Subsaariana, também chamada de África negra.
O mais antigo foi o Reino da Etiópia. Nos primeiros séculos da nossa era, sua região fora influenciada pelos antigos romanos, com o cristianismo.
Nessa longa história dos povos africanos, algumas sociedades se tornaram mais conhecidas em virtude de sua longevidade, poder político e econômico. Como o Império de Kush, Cartago e Axum.
Os grandes Impérios de Gana, Mali e Songhai, por sua vez, constituíram as mais importantes Civilizações Africanas entre os séculos IX e XV. Por este motivo, eles serão estudados com mais detalhes.


Expansão do Cristianismo

         Dentro do continente africano também existiram reinos que praticavam a religião cristã, sendo o mais importante o reino de Axum, localizado onde hoje encontramos o Sudão e o norte da Etiópia.
          Estes povos tornaram-se cristãos, após o século IV d.C, devido as influências recebidas no contato com o Império Romano.
         O Império Romano detinha rotas comerciais que passavam pelo Mar Vermelho e por Axum para chegarem até a Índia.
          Mesmo com o declínio e posterior desaparecimento do Império Romano, estes reinos continuaram sendo cristãos.
          Curiosamente, o Reino de Axum, fez um tratado com o Egito (que o incorporou) para poder continuar sendo cristãos, mas no século XIV foram derrotados pelos Turcos mamelucos que impuseram a religião islâmica.



OS REINOS DA ÁFRICA OCIDENTAL
  Na região da África Ocidental, que fica no Oeste da África, no oeste-sul do Deserto do Saara até o Golfo da Guiné, surgiram alguns reinos como Gana, Mali e Songhai que serão apresentados e discutidos nesse texto.

REINO DE GANA
O primeiro reino que se tem registro na região entre os rios Senegal e Níger é o reino de Gana. Ele se formou no século IV da era cristã e já no século VII foi visitado por missões de povos árabes. Os habitantes de Gana praticavam a agricultura e a criação de animais, além de possuírem grande quantidade de ouro na região. No início de sua história, essas atividades eram desenvolvidas por tribos praticamente independentes entre si.
No século IV essas tribos formaram uma confederação liderada por reis da família Sarakollés. Desde o século VII, Gana mantinha relações com os povos árabes. No século XI o próprio rei e muitos nobres e comerciantes adotaram a religião islâmica.    
Essa conversão ajudou a ampliar as relações comerciais com os árabes e permitiu a utilização de práticas administrativas e jurídicas da cultura islâmica que possibilitaram uma melhor organização do Império de Gana.

Gana na visão do viajante árabe Al-Bakri
... Gana é a cidade mais importante, mais populosa e com o comércio mais activo de todo o território dos negros. Visitam-na ricos mercadores dos países vizinhos e de todos os países do Magreb Ocidental. O rei ganha um dinar de ouro por cada burro carregado de sal que entra no seu país, e dois dinares por cada carregamento de sal exportado. A carga de cobre rende-lhe cinco miticais e a carga de mercadorias dez miticais. (...) Diz-se que o rei tem em casa um pedaço de ouro do tamanho de uma grande pedra, que pesa trinta libras e forma um único bloco. (...) Escavaram nele um buraco para prender o cavalo do rei.

Al-Bakri, 1068, Description de l’Afrique septentrionale, Paris, 1859. P. 7;385; 8. In COQUERY-VIDROVITCH, Catherine (Org. ) A descoberta de África, Edições 70, Lisboa, 2004. p. 43.
    
A enorme prosperidade alcançada por Gana atraiu a cobiça dos povos vizinhos. Em 1076, a capital Koumbi foi tomada por grupos nômades que habitavam o Saara Ocidental. A invasão durou pouco, mas causou grandes estragos econômicos e foi seguida por uma luta entre diversos nobres pelo poder. O Império de Gana estava fragmentado e enfraquecido. Aproveitando-se dessa fraqueza, um pequeno reino que habitava o alto rio Níger afirmou sua supremacia: estava nascendo o Império do Mali.

Reinos na África Ocidental


IMPÉRIO DE MALI

     Em 1240 o exército do reino do Mali,  invadiu Koumbi – antiga capital do império de Gana.
Esse reino era habitado por vários povos, sendo os malinquês (ou mandingas) o grupo principal. Os governantes recebiam o título de mansa. Viajantes árabes relataram a história de alguns governantes que se tornaram famosos como Sundiata, que reinou de 1230 a 1255 e Mansa Mussa, que governou entre 1312 e 1337 e é lembrado pela peregrinação que fez à cidade sagrada de Meca.

Observe a imagem abaixo: que tipo de imagem é essa? Quem a produziu?  Quem está sendo representado em primeiro plano? 


Dominando as antigas regiões auríferas do Império de Gana e outros povos mineradores, os malineses puderam desenvolver um intenso comércio com os árabes – que se tornaram os principais responsáveis pela exportação do ouro malinês para a Ásia e em menor medida para a Europa. Apesar de manterem diversas práticas tradicionais de sua religiosidade, os habitantes do império de Mali absorveram muitas características da cultura islâmica: contratos escritos, uso do crédito, escolas de tecnologia e alfabetização. Uma das áreas em que essa influência se manifestou foi a arquitetura.
            Durante o século XV, o império de Mali foi derrotado pelos Songhai, um povo que vivia nas fronteiras orientais do reino, em torno da cidade de Gao, às margens do Rio Níger. Surgia assim o último grande Império Africano, o de Songhai ou de Gao.

IMPERIO DE SONGHAI

            O Império de Gao foi fundado por Ali Ber (1464-1492), guerreiro que conseguiu derrotar os malineses e estender bastante seus domínios. Seu sucessor, Askia Mohammed rompeu com toda a tradição africana, transformando Gao num típico Império Islâmico, promulgou uma constituição baseada nas leis islâmicas e começou a reformar a administração do Império. Extinguiu os antigos privilégios da nobreza, estabelecendo como critério para a admissão nas funções burocráticas a competência e não mais o nascimento. Isso provocou reação dos nobres, que concorreram para enfraquecer a unidade do império.
            Em meio às lutas entre os imperadores e a nobreza ocorreram dois fatos que contribuíram decisivamente para a interrupção do poderio do Império de Gao: a chegada dos portugueses à Costa do Senegal, por volta de 1450, e a invasão de Tombuctu pelos marroquinos, em 1591. Esses dois fatos implicaram a queda do último grande Império africano e deram início a um novo período da história desse continente.

RELATOS DE VIAJANTES E FONTES HISTÓRICAS
Os primeiros povos a tomar contato com os grandes Impérios africanos foram viajantes, caravaneiros, geógrafos e historiadores, provenientes da Europa e da Ásia. Para esses homens o modo de vida africano aparecia como um mundo diferente e exótico.
                A cor da pele, o modo de vestir, as tradições políticas, a quantidade de ouro: tudo isso impressionava os Árabes. Eles nomeavam os lugares visitados a partir das características que mais lhe chamavam atenção. Assim, as cidades da costa oriental foram denominadas suahilis, que em árabe quer dizer ‘cidades costeiras’; já a região do Império de Gana foi denominada “país do ouro”, devido à abundância desse metal.
                Os relatos desses viajantes constituem a principal fonte histórica para o estudo dos impérios africanos. Contudo, ao analisá-los o historiador deve estar atento para o fato de que os viajantes escreviam segundo suas impressões, chamando a atenção para os detalhes que mais os atraíam. Cabe ao historiador, portanto, olhar esses relatos de modo crítico, checando suas informações com as de outras fontes como, por exemplo, restos arqueológicos e pesquisas antropológicas atuais.

COMÉRCIO
Durante os primeiros séculos de nossa era, o deserto do Saara funcionou como uma espécie de cordão de isolamento, impedindo o contato dos povos que habitavam o centro e o sul da África com a Ásia e a Europa. Apenas no século VIII essa situação começou a se alterar.
            Impulsionados pela idéia de expandir sua religião, os islamitas atravessaram o Saara a fim de converter ao islamismo os povos que habitavam o oeste da África e regiões que fornecessem novos produtos e riquezas. Nessa expansão, os islamitas encontraram uma enorme diversidade de povos com diferentes formas de vida.

Expansão do Islamismo
       Maomé que viveu entre Meca e Medina de 570 a 632 foi o fundador do islã, que significa submissão a Deus, único e onipotente. No mundo moderno, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo são as três principais religiões monoteístas, isto é, que preconizam a existência de um único Deus, criador de todas as coisas.
Elas se guiam por textos sagrados, estabelecidos em momentos diferentes: a Tora, a Bíblia e Alcorão. O islã foi rapidamente difundido pela pregação de Maomé e seus seguidores, e no século VIII, estava presente desde a Pérsia até a península Ibérica, passando por toda a Arábia, pelo Império Turco e pelo norte da África.
A religião vinha acompanhada de maneiras de viver e de governar próprias do mundo árabe, chamadas de muçulmanas. Segundo a religião islâmica, povos variados podem ser agregados em torno de uma comunidade de idéias e crenças capaz de produzir uma unidade, chamada de umma. Os cinco principais deveres de todo adepto do islã são: a profissão de fé, isto é, a declaração da crença em um só Deus e em Maomé como seu profeta; a oração cinco vezes ao dia; o pagamento do imposto religioso; o jejum no mês do Ramadã; e a peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida.

Algumas das rotas comerciais mais importantes se estabeleceram ao longo do deserto do Saara e do Sahel, em direção aos mares Mediterrâneo e Vermelho. As caravanas de mercadores eram auxiliadas pelos povos que habitavam e conheciam profundamente o deserto. Formava-se assim o comércio transaariano, que marcou as relações sociais e econômicas no continente durante séculos.
As rotas do comércio transaariano apresentavam inúmeras dificuldades: terreno acidentado, áreas montanhosas e alagadiças, grandes extensões de deserto. Para percorrê-las, era necessário utilizar animais adaptados a vários tipos de terreno e clima.
Primeiro, os povos africanos da região tentaram os bois, mas estes eram lentos e limitados. Depois foi a vez do cavalo, introduzido aproximadamente em 1000 a.C. Apesar de ágil, o animal era difícil de ser encontrado e poucos podiam ter um.
A grande mudança veio quando se passou a utilizar o camelo, nos primeiros séculos da era cristã. Esse animal, fantasticamente adaptado às condições climáticas africanas, era capaz de percorrer terrenos que nenhum veículo de rodas conhecido àquela época conseguiria.
Caravanas de Camelo
Além disso, o camelo é capaz de passar um longo tempo sem beber água, o que lhe permite tolerar as longas travessias do deserto do Saara.
            Com os camelos, os africanos e as populações nômades puderam se movimentar em grandes grupos, não apenas através do Saara, mas também em direção ao sul. Aí, o domínio de uma sofisticada tecnologia de pesca e navegação possibilitou a formação de várias sociedades próximas a costa do atlântico, onde hoje se localizam países como Angola, Namíbia, Botsuana e África do sul.
As mercadorias comercializadas pelas caravanas que atravessavam o deserto do Saara rumo ao mar Mediterrâneo, eram das mais variadas regiões da África, como o sal das minas do deserto, o ouro das minas dos Rios Senegal, Niger e Volta, grãos produzidos nas cidades da região do Sudão Central, a noz-de-cola das florestas do Baixo Níger, além de peles, plumas, essências, marfim, instrumentos de caça (enxadas, pontas de lanças etc.), enfeites de metal, contas, objetos de cerâmica e couro das mais variadas regiões do continente. Estas mercadorias eram transportadas, desde sua origem até os pontos onde estas caravanas passavam, utilizando canoas para transportar pelos rios, burros pelas vias terrestres e até mesmo pessoas para chegar aos locais de destino.

NOZ-DE-COLA
         A noz-de-cola é um produto da floresta muito valorizado entre as sociedades muçulmanas. No interior desse fruto de diversas variedades, fixam os gomos, com um sumo extremamente amargo, que, ao ser consumido nas regiões áridas do deserto e da savana, sacia a sede e produz uma sensação de bem estar, graças ao seu alto teor de cafeína.
De conservação delicada, era transportado com cuidado, envolto em folhas verdes e largas, tendo de ser constantemente reembalado para que seu frescor fosse mantido. Oferecido aos visitantes ilustres, não podia faltar entre os bens das pessoas de maior distinção. Dos poucos estimulantes permitidos entre os povos islamizados, tinha alto valor de troca, o que compensava as longas distâncias e os cuidados especiais relacionados ao seu comércio.
No Brasil a noz-de-cola, conhecida como obi e orobó, tem lugar de destaque na realização de alguns cultos religiosos afro-brasileiros.  

sexta-feira, 17 de junho de 2011

SOCIEDADES AFRICANAS: FAMÍLIAS, ANCESTRALIDADE E PODER.


Algumas sociedades africanas formaram grandes reinos, como o Egito, O Mali, Songai, Oió, Axante e Daomé. Outras eram agrupamentos muito pequenos de pessoas que caçavam e coletavam o suficiente para o sustento da família e do grupo. Mas, todas, das mais simples às mais complexas, se organizaram a partir da fidelidade ao chefe, das relações de parentesco e do conhecimento dos mais velhos e dos ancestrais.
Nas aldeias, que eram a forma mais comum de os grupos se organizarem, havia algumas famílias, cada um com o seu chefe, sendo todos subordinados ao chefe da aldeia. Ele era o responsável pela definição das regras que deveriam ser seguidas por todos, pela distribuição de terras, pelo bem estar e pela segurança. Em muitos casos, as suas decisões eram tomadas em conjunto com outros líderes da aldeia ou por um conselho que o auxiliava em diversos assuntos, inclusive aqueles ligados ao sobrenatural: como os espíritos da natureza, os antepassados mortos e heróis míticos que muitos consideravam fundadores de suas sociedades.
Estas famílias africanas baseavam-se em estruturas sociais de etnia e parentesco, onde o mais velho controlava os meios de produção e o acesso as mulheres, concentrando, assim, o poder político.  Alem disso, não havia distinção de classes dentro desta sociedade, a separação era executada de acordo com as faixas etárias, sendo os mais novos completamente dependentes da ajuda dos mais velhos para sobreviver.
            Desta forma podemos entender que a sociedade africana era baseada na gerontocracia, ou seja, o poder estava nas mãos dos mais velhos.
Além disto, elas poderiam ser matrilineares (África centro-ocidental), onde somente a ascendência maternal é considerada, ou poderia ser patrilinear (África Ocidental) onde só o parentesco paterno é considerado.
            Em uma sociedade onde o poder está baseado no parentesco, quanto mais parentes, dependentes, agregados, escravos e filhos este chefe tiver, maior será seu poder, desta forma o papel feminino dentro deste panorama é de suma importância, pois além da reprodução e aumento populacional, estas mulheres também eram responsáveis pela produção de grãos e viveres.
            Neste contexto os casamentos eram primordiais, sendo geralmente arranjados, requerendo pagamento à família da mulher. Isto poderia ser bom para o pai da noiva que poderia adquirir certa riqueza e dependendo do caso melhorar sua posição social. Já para o noivo e para a família a qual se pretendia o casamento, poderiam firmar novos laços de parentesco com outras famílias e aumentar seu poder. Não obstante, depois que um casamento respeitável estivesse estabelecido, um homem podia procurar esposas adicionais e concubinas, pois esta sociedade era poligâmica.
Nestas sociedades a incorporação de pessoas que não pertencessem ao grupo também era muito forte, por exemplo, os escravos não eram considerados mercadorias, mas sim pessoas da família, responsável por algumas atividades de importância para todo o grupo e poderiam ser incorporadas pelo casamento ou simplesmente pela sua importância para o grupo.


A POLIGAMIA

Poder casar com várias mulheres era sinal de prestígio: quanto mais poderoso um chefe, mais mulheres ele tinha. E isso valia tanto para as regiões islamizadas, como para as que mantinham as tradições locais. Entre os mulçumanos os modelos dos haréns, que reuniam todas as mulheres do sultão, a maioria delas escravas, deve ter influenciado os grandes chefes africanos. Para um homem receber uma mulher, tinha de dar a sua família um dote, como se assim estivesse comprando daquele grupo a capacidade de trabalho e de reprodução de um de seus membros.
Para os europeus que se relacionavam com as sociedades africanas, a poligamia era algo a ser combatido, ligado a formas de vida atrasadas e condenado pela religião. Para os africanos, quanto mais mulheres pudessem ter, mais amplos seriam os laços de solidariedade e fidelidade, pois os casamentos garantiam alianças entre os grupos. E aquele que possuísse muitas mulheres, além de ter laços com diversas linhagens, teria uma descendência maior, nascida de suas várias mulheres. Quanto mais pessoas um chefe tivesse sob sua dependência e proteção, mais sólida seria sua posição e maior o seu prestígio. O poder era medido, acima de tudo, pela quantidade de pessoas subordinadas a um chefe.




























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Várias aldeias podiam estar articuladas umas com as outras, formando uma confederação de aldeias, que prestava obediência a um conselho de chefes. As confederações eram formas de organização social e política mais amplas do que as aldeias, que envolviam mais pessoas, mas nas quais não havia um chefe com autoridade sobre todos os outros.
 Com o passar dos anos, algumas dessas sociedades construíram cidades e, algumas delas, passaram a centralizar o controle da administração, da justiça, as atividades comerciais, a defesa e a força militar, a oferta de alimentos e até mesmo a expansão territorial de algumas regiões. Uma sociedade com uma capital, na qual morava um chefe maior, com autoridade sobre todos os outros chefes, chamamos de reino, que era uma forma de organização social e política mais complexa do que as aldeias e confederações de aldeias.
Além das aldeias, das confederações, dos reinos e dos grupos nômades (que podiam tanto ser pastores do deserto como coletores e caçadores das florestas), havia sociedades organizadas em cidades, mas que não chegavam a formar um reino.
Essas cidades geralmente eram cercadas, fosse de paliçadas, fosse de muros feitos de terra. Também eram centros de comércio onde diferentes rotas se encontravam.
Por trás dos muros funcionavam os mercados, moravam os comerciantes e os vários chefes, que tinham diferentes atribuições e viviam em torno do rei.
Este morava em construções maiores que todas as outras e com decoração especial cercados de suas mulheres, dependentes, funcionários, colaboradores e soldados. Artesãos se agrupavam conforme suas atividades: os que fiavam, tingiam e teciam o algodão e a lã, os que fundiam ferro, faziam armas e utensílios de trabalho, os que faziam jóias, potes de cerâmica, esteiras de palha, bolsas de couro e arreios.
Nos arredores das cidades viviam agricultores e pastores que abasteciam de alimento os moradores e também os que estavam de passagem.

BIBLIOGRAFIA
DREGUER, Ricardo ; TOLEDO, Eliete. História cotidiano e mentalidades: contatos entre civilizações do século V ao XVI, 6ª série. São Paulo: Atual, 1995. 161 p.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. Ed. Ática, São Paulo, 2006 



Utilizando o computador em sala de aula

Entrelaçando educação e mídia, nós decidimos explorar na aula anterior o seguinte site  https://genographic.nationalgeographic.com/genographic/lan/es/atlas.html para que os estudantes usassem seus net books e pudessem acompanhar, simultaneamente, com o professor a riqueza de informações que esse domínio nos oferece, demonstrando por meio de sua interatividade as primeiras levas migratórias, provenientes da África, para o restante do mundo.

África: os primeiros hominídeos e a separação lingüística.

A história das sociedades africanas foi, durante muito tempo, deixada de lado, em grande medida, devido às idéias preconcebidas sobre o continente africano produzidas, sobretudo pelos europeus, nos séculos XVIII e XIX. Como as sociedades africanas não apresentavam as mesmas instituições políticas, não possuíam padrões de comportamento e visões de mundo semelhantes aos dos europeus, a conclusão só podia ser uma: a de uma sociedade não civilizada e sem História”.[i]
Infelizmente, “na TV, a África é mostrada quase sempre como uma gigantesca selva, e uma savana a perder de vista, habitada por leões, elefantes e girafas, ou como um continente castigado pela fome e pelas doenças. Na verdade, a história da África é tão rica e movimentada quanto à de qualquer outro continente”.[ii]
Você sabia que o continente africano foi onde, provavelmente, surgiram os primeiros seres humanos?

Quando os humanos saíram pela primeira vez da África, a 60.000 anos atrás, deixaram traços genéticos que são visíveis até hoje. As grandes migrações finalmente levaram aos descendentes de um pequeno grupo de africanos a ocuparem inclusive os cantos mais distantes da terra.
Os primeiros hominídeos partiram da África e começaram a se instalar em Israel 1,4 milhão de anos atrás. Para a hipótese mais aceita no mundo de hoje, conhecida como "out of África" (para fora da África, em inglês), os hominídeos originaram-se na África e iniciaram um processo de dispersão para o Oriente Médio, Ásia e Europa.
A imagem abaixo ilustra essa teoria:
Por este motivo, a África é considerada, por muitos pesquisadores, o Berço da Humanidade.

Existe uma teoria da evolução que se intitula ‘hominização’, que defende que o homem surgiu na África.

Desde o Australopitecos, Homo Habilis, Homo Erectus, Homo Sapiens até o Homo Sapiens Sapiens.

O Homo erectus, hominídeo autor de importantes avanços (como a utilização do machado), teria saído da África há quase dois milhões de anos  em ondas migratórias rumo à Ásia e à Europa, iniciando o povoamento do mundo. E, segundo a autora Elisa Nascimento, o consenso científico afirma que o homo sapiens sapiens também evoluiu na África e de lá saiu, há mais ou menos 150 mil anos, em uma segunda fase de ondas migratórias através da Eurásia. Isso é comprovado pelas ossadas fósseis e pela arte primitiva encontrada no continente africano.[i]

Como em outros continentes, também na África, diversos núcleos humanos realizaram a passagem da vida nômade ao sedentarismo agrícola, o que levou, pela dominação de outros povos e organização, à formação de reinos e Impérios.
Os reinos mais antigos do continente, formados com base no modo de vida sedentário neolítico, constituíram-se primeiramente na África Setentrional, região norte da linha do Equador. Não muito depois, a profusão de povos nômades e sedentários também deu origem a aldeias e vários outros reinos no centro e parte sul do continente, na região que dominamos de África Subsaariana. Desses vários reinos, vamos destacar apenas alguns desde os primórdios da antiguidade[ii] que serão estudados nas próximas aulas. 


Línguas e idiomas

            A diversidade lingüística na África é excepcional, embora próxima da asiática. O continente possui cerca de duas mil línguas com suas variações dialetais. Contudo, hoje somente cerca de 50 delas são faladas por mais de dez milhões de habitantes.

Ocorre também que certas línguas são reconhecidas com nomes ou grafias diferentes. Há também as variações dialetais: o mandinga, por exemplo, tem pelo menos dez variações dialetais: malinkê, bambara, diula, etc. As línguas africanas são geralmente agrupadas em seis famílias. Observe o mapa:

Para resumir esse retrato da África, podemos enxergá-la a partir dos seus quatro maiores grupos linguisticos: Afro-asiático, níger-congo, Nilo-saariano e Cóisan.


A região do Saara e do Sael é habitada por povos falantes de línguas afro-asiáticas, formadas pelas misturas entre os povos locais e as levas de migrantes do Oriente Médio. Estes se espalharam pela costa e pelo interior do continente, pelo vale do Rio Nilo, pela Etiópia, chegando ao atual Marrocos, então conhecido por Magrebe: “oeste distante” em árabe. Os beduínos da península arábica que migraram para a África eram parecidos física e culturamente com os berberes, azenagues e tuaregues da região do Saara.

            Já os povos negros que habitavam as regiões ao sul do Sael eram muito diferentes dos berberes e tuaregues. As diferenças físicas eram as mais evidentes, mas também eram diferentes as línguas, religiões e as atividades econômicas, adequadas aos ambientes em que viviam, de savanas, florestas e muitos rios. Esses grupos dominavam a metalurgia e falavam línguas niger-congo, tronco que se subdivide em cinco outros grupos. Dois deles, as línguas banto e zande, se ligam à expansão banto. Os outros quatro grupos existentes na África Ocidental são o kwa, ao qual pertencem línguas como axante, ioruba, ibo, igala e nupe falados nas regiões de floresta e savana que se estendem da costa atlântica até o Sael; o mande, falado na região do alto e médio Níger; o atlântico ocidental, que abrange as línguas jalofo e fula faladas na região do rio Senegal; e o voltaico, ao qual pertence a língua mossi, falada na região do alto rio Volta.         

Quanto aos falantes da língua Nilo-saarianas, eram nômades do Saara e do Sael, criadores de gado, alguns dos quais disputaram com os bantos a ocupação da região dos lagos Vitória e Tangânica. Mas, entre eles, também havia os que eram artesãos, produtores de grãos, moradores das cidades saelinas que floresceram à sombra do comércio. Aqueles que pertenciam à elite, como comerciantes, grandes produtores de grãos e administradores, geralmente se convertiam ao islamismo, ou a formas africanas de islamismo, ao passo que, os agricultores, artesãos e pastores se mantiveram fiéis às suas religiões tradicionais.

Os caçadores e coletores que não se misturaram aos bantos espalhados pela África central se fixaram no sudoeste do continente, e são falantes de línguas cóisan.



Curiosidades

LÍNGUAS AFRICANAS E SEUS USUÁRIOS

- Com mais de 130 milhões: árabe


- Com mais de 50 milhões: haussa (Nigéria e países vizinhos ao norte), suaíli (swahili), na Tanzânia (língua oficial), Quênia e Uganda (língua nacional) litoral do Índico até centro do Congo-Zaire.


- Com mais de 20 milhões: amárico (Etiópia) e berbere (Marrocos e Argélia).


- Com mais de 10 milhões: ioruba e ibo Nigéria), grupo nguni (África do Sul: zulu e xhosa), mandinga (vários países no oeste africano). Grupo sotho (África do Sul), malgache (Madagascar), lingala (Congo/Zaire), kikongo (os Congos e norte de Angola).[i]



[i] Fonte: Africa at a Glance. Instituto Africano da África do Sul, 1998, com estimativas de outras fontes. CONCEIÇÃO, José Maria Nunes Pereira. África, um novo olhar. Cadernos CEAP. Rio de Janeiro: Espalhafato, 2006, 88p.





[i] Disponível em < http://www.educacaoliteratura.com.br /index%20148.htm> Acessado em 11 mai 2011.
[ii] VICENTINO, Cláudio. História. projeto Radix raiz do conhecimento. 7 série. Editora Scipione, 2006.



[i] NASCIMENTO, Elisa Larkin em Introdução à história da África . In: Educação africanidades Brasil. MEC – SECAD – UnB – CEAD – Faculdade de Educação. Brasília. 2006. p. 33-51.
[ii] BOULOS Jr, Alfredo. História: sociedade & cidadania. Livro didático: 5ª série, 6º ano. Manual do professor. Editora FTD, PNLD 2008.