O texto abaixo foi recolhido pelo escritor senegalês Djibril Niame que reproduz o relato de um griot sobre o seu próprio ofício.
DOCUMENTO HISTÓRICO
“(...) Sou griot. Meu nome é Djeli Mamadu Kuyatê, filho de Bintu Kuyatê e de Djeli Kedian Kuyatê, Mestre na arte de falar. Desde tempos imemoriais estão os Kuyatês a serviço dos príncipes Keita do Mandinga (o mesmo que Império do Mali); somos os sacos de palavras, somos o repositório que conserva segredos multiseculares.
A Arte da palavra não apresenta qualquer segredo para nós; sem nós, os nomes dos reis cairiam no esquecimento; nós somos a memória dos homens; através da palavra, damos vida aos fatos e as façanhas dos reis perante as novas gerações.
Recebi minha ciência de meu pai Djeli Kedian, que a recebeu igualmente de seu pai; a História não tem mistério algum para nós; ensinamos ao vulgo tudo que aceitamos transmitir-lhes; somos nós que detemos as chaves das doze portas do Mandinga.
(...) Os griots conhecem a história dos reis e dos reinos, motivo por que são os melhores conselheiros dos reis. Todo grande rei quer ter um chantre para perpetuar sua memória, visto que é o griot quem salva a glória dos reis, pois os homens têm a memória muito curta.
Os reinos têm seu destino traçado, tal como os homens; só o conhecem os adivinhos, que investigam o futuro, cuja ciência dominam. Nós outros, griots reais, somos os depositários da ciência do passado; mas quem conhece a história de um país poderá ler seu futuro.
Há povos que se servem da linguagem escrita para fixar o passado; mas acontece que essa invenção matou a memória dos homens: eles já não sentem mais o passado, visto que a língua escrita não pode ter o calor da voz humana.
Todo mundo acredita conhecer, ao passo que o saber deve ser algo secreto (os griots tradicionais são muito criteriosos ao transmitir seu saber por considerá-lo um segredo). Os profetas não escreveram, e sua palavra nem por isso é menos viva. Pobre conhecimento, esse que se encontra imutavelmente fixado nos livros mudos...
Eu, Djeli Mamadu Kuyatê, sou o elo final de uma longa tradição: desde muitas gerações nós transmitimos de pai para filho as histórias dos reis. A palavra me foi transmitida sem alteração e eu passarei sem qualquer mudança, visto que a recebi isenta de qualquer mentira.
Ouvi, pois, a história de Sundjata, o Na’Kamma, o homem que tinha uma missão a cumprir (...)”*
*NIANE, Djibril. Sundjata ou a epopéia mandinga. São Paulo: Ática, 1982, p. 11 e 66.
Vocabulário
Vulgo: povo, homem comum.
Chantre: cantor.Atividade nº 6
1- Após a leitura do documento histórico do escritor senegalês Djibril Niame, que reproduziu o relato de um griot sobre o seu próprio ofício, responda as seguintes questões:
a) Identifique o tipo de documento e o seu autor.
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b) O autor do documento se define como um griot. Retire uma ou mais frases do texto que melhor explique, em sua opinião, como é o trabalho do griot. Justifique suas escolhas.
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c) Analise o seguinte trecho do documento: “A Arte da palavra não apresenta qualquer segredo para nós; sem nós, os nomes dos reis cairiam no esquecimento”. Consulte o documento e o texto de apresentação e responda com suas palavras por que os griots se consideravam os melhores conselheiros dos reis?
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d) Consulte o texto de apresentação e responda por que “é costume dizer na África que quando morre um ancião é uma biblioteca que desaparece”?
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e) Por que o autor do texto afirma que a escrita matou a memória dos homens? Interprete as diferenças apresentas pelo autor entre a linguagem escrita e a linguagem oral para as sociedades africanas tradicionais.
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f) Responda essa questão e posteriormente publique-a no blog:
Sabemos que os relatos dos griots são registros históricos importantes para conhecermos a história da África. O que podemos aprender a partir deles?
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A)Um relato auto biográfico, e o autor é Djeli Mamadu Kuyatê.
ResponderExcluirB)“A Arte da palavra não apresenta qualquer segredo para nós; sem nós, os nomes dos reis cairiam no esquecimento”. Escolhi essa frase porque eu achei muito sabia, e mostra também que sem os griot os reis cairiam no esquecimento pois os homens tem a memoria muito fraca.
C)Pois porque eles são os únicos que tem as memoria boa que sabem das coisas!
D)pois eles eram considerados como uma biblioteca pois eles tinham uma ótima memoria.
F)Não soube fazer, desculpa
Achei a aula de hoje muito legal. Principalmente quando vocês mostraram aquele vídeo com fotos da 'tribo' da Etiópia, que ainda se pintava etc. Eu gostei muito do estágio, pois vocês ensinam muito bem, e também porque eu aprendi um pouco de árabe, porque eu gosto da cultura árabe e tenho vontade de fazer aulas de árabe. E quanto as máscaras e estátuas eu concordo é bem mais difícil para historiadores como vocês vão ser interpretar uma máscara dessas do que uma pintura européia, e coisas assim que a época e a utilidade estão implícitos, ao contrario das máscaras
ResponderExcluirBeatriz P.